“A Educação Inclusiva é para alunos “diferentes””
A noção de “diferença” tem baseado muito do discurso moderno sobre a diferenciação
pedagógica . Perrenoud (1996) fala mesmo dos alunos com “pequenas” e “grandes”
diferenças. Apesar do termo “alunos diferentes”ser abundantemente usado, isso não significa
que ele tenha um entendimento claro. Frequentemente o termo “diferente” é usado como um
“alter nomine” de “deficiente” (sinalização de um qualquer problema num aluno). Tal como
no período integrativo existiam os “deficientes” e os “normais” encontramos agora os
“diferentes” e os “normais”. Mas o que é afinal ser diferente? E diferente de quê?
É conhecida a dificuldade de traçar uma fronteira clara entre a deficiência e a normalidade.
Em casos de pessoas com deficiência intelectual é muito difícil diferenciar uma pessoa com
deficiência intelectual com um alto funcionamento de uma outra sem deficiência intelectual
com um baixo funcionamento cognitivo. O que parece obvio é que as capacidades humanas
(sejam cognitivas, afectivas, motoras ou outras) se distribuem num continuum no qual são
apostas fronteiras e critérios que são socialmente determinados. Um exemplo do carácter
aleatório destas fronteiras é a variedade de classificações da deficiência intelectual nos
diversos estados dos Estados Unidos que pode levar que o mesmo indivíduo seja considerado
como tendo deficiência num estado e sem deficiência num estado vizinho. Ser diferente é
assim, na acepção comum viver numa sociedade que cujos valores consideraram
determinadas características da pessoa como merecedoras de serem classificadas como
deficiência ou dificuldade.
Mas o certo é que a diferença não é estruturalmente dicotómica isto é não existe um critério
generalizado e objectivo que permita classificar alguém como diferente. A diferença é antes
de mais uma construção social historicamente e culturalmente situada. Por outro lado,
classificar alguém como “diferente” parte do principio que o classificador considera existir
outra categoria que é a de “normal” na que ele naturalmente se insere.
Quando dizemos que a EI se dirige aos alunos diferentes, acabamos por encarar todas estas
questões. Sabemos que não são só diferentes os alunos com uma condição de deficiência:
muitos outros alunos sem condição de deficiência identificada não aprendem se não tiverem
uma atenção particular ao seu processo de aprendizagem. Heward (2003) afirma que o facto
dos alunos serem todos diferentes não implica que cada um tenha que aprender segundo uma
metodologia diferente; isto levar-nos-ia a uma escola impossível de funcionar nas condições
actuais. Significa, no entanto, que se não proporcionarmos abordagens diferentes ao processo
de aprendizagem estamos a criar desigualdade para muitos alunos.
O certo é que não só os alunos são diferentes mas os professores são também diferentes e ser diferente é uma característica humana e comum e não um atributo (negativo) de alguns. A EI
dirige-se assim aos “diferentes” isto é a… todos os alunos. E é ministrada por “diferentes”
isto é… todos os professores.